O que Significa Ter Clareza? Um Convite para Explorar o Ser
Clareza, em sua forma mais pura, é luz. Fisicamente, é a luz que nos permite enxergar melhor.
Psicologicamente, essa metáfora nos direciona para dentro: no âmbito mental, a luz se manifesta com ideias claras, geradoras de confiança e discernimento.
No campo emocional, a clareza é o que nos permite ver e navegar nas correntes que nos movem, evitando os estragos que emoções mal direcionadas podem causar. É a nossa proteção contra o autoengano, as escolhas incoerentes e os caminhos adversos.
Mas onde o universo interno da nossa mente e das nossas emoções encontra o mundo externo das reuniões, prazos e interações?
É aqui que a Teoria da Complexidade nos oferece a compreensão mais profunda que precisamos. Ela nos mostra que os processos mentais se desdobram em processos sociais e que estes, por sua vez, retroalimentam a mente, gerando um único e inseparável tecido sóciocognitivo fractalizado. A Complexidade vem nos apoiar na medida em que une o interno com o externo e, assim, nos une com a realidade da forma como ela se apresenta.
Imagine a cena: você recebe um convite inesperado para uma reunião desnecessária. Você já sente o peso da sobrecarga, da ansiedade e da preocupação. O convite chega como uma pedra no fluxo do seu dia. Como não há clareza sobre a situação, a reação é automática: você atribui ao evento um significado "ruim", "negativo". Você luta contra ele. Você resiste.
A física nos ensina, por meio da Lei de Ohm, uma lição que a psicologia confirma: a resistência gera tensão. No campo da nossa mente, a resistência é a oposição interna ao fluxo da realidade. É o ‘não’ silencioso que dizemos a uma situação indesejada: ‘não quero fazer isso’, ‘isso não devia estar acontecendo’. A tensão, por sua vez, é a energia que se acumula nesse atrito. É a pressão interna, o estado de estresse e desconforto que nasce do conflito entre a realidade como ela se apresenta e o nosso apego a como ela deveria ser.
Essa tensão não é abstrata; ela é visceral. Você sente o calor e a presença da ansiedade, os ombros se contraem, e toda a sua energia mental é desviada para alimentar narrativas de injustiça, ineficiência e até estupidez: "Por que eu? Isso é uma perda de tempo... que idiotice!".
E, assim, vamos para a reunião com uma armadura invisível, presentes em corpo, mas ausentes em espírito.
A fonte do nosso esgotamento, então, se revela: não é a reunião em si, mas a imensa quantidade de energia que gastamos enquanto resistimos à realidade que se apresenta.
E aqui, a Teoria da Complexidade nos oferece a clareza que buscávamos. A fonte do nosso esgotamento não foi a circunstância externa; foi a nossa própria reação a ela. Foi o significado negativo que demos a um evento que, em sua essência, era neutro. Fomos, como todo ser humano, criadores de sentido. No entanto, a falta de clareza tornou nosso sentido automático inútil e destrutivo — para nós, para a reunião e para a organização.
A prática do Sensemaking é o convite da Complexidade para sairmos desse automatismo. É o ato de iluminar nossa forma de criar sentido, para que ele se torne útil, positivo e motivador.
A tentação, diante desse desconforto, é sempre para fora: buscar o controle externo. Buscamos formas de "gerir a realidade", como aprender a dizer não ou tentar manipular o sistema para evitar convites futuros. São movimentos que podem ter seu valor, mas que falham em tocar na real causa do sofrimento, nos mantendo frágeis internamente. O resultado, no longo prazo, é uma vida de refúgio, uma busca incessante por controle sobre um universo que teimosamente se recusa a ser controlado. E assim descobrimos que o universo não é nosso inimigo. Nós somos os criadores da nossa própria sombra.
É a exaustão dessa luta, do "fazer" incessante para controlar o incontrolável, que finalmente nos força a olhar para o único lugar que evitamos. Descobrimos a verdade que estava no centro de nossa busca desde o início. O primeiro passo não é para fora. É para dentro.
É preciso explorar o Ser.