O Ser que Precede o Fazer: As Duas Posturas que Definem o Destino da Organização

No coração de toda organização, operam duas posturas humanas fundamentais. Elas são como vetores de força que, silenciosamente, determinam se o sistema se move em direção à unidade ou à estagnação.
A primeira postura é a de quem se coloca a serviço da organização. A pauta da pessoa é fazer o que é preciso para o bem do todo, e sua satisfação pessoal vem como uma decorrência natural dessa contribuição. Quando essa postura emerge em seu estado mais puro, a ação é regida por confiança, propósito e um senso de participação em uma história que gera significado para si e para os outros. Para que essa relação prospere e se sustente, a organização retribui com estrutura, segurança, espaço para criação e, principalmente, a força da história que servirá de fonte de significado para a atuação coletiva.
A segunda postura é a de quem coloca a organização a seu serviço. As ações aqui são pautadas no benefício próprio, e o alinhamento com a necessidade do sistema só importa se for conveniente para os objetivos pessoais. Na sua forma ativa, essa postura se manifesta como uma luta para que a organização siga o rumo que mais lhe convém. Na sua forma passiva, a pessoa se protege atrás do "cumprimento de uma função". A proatividade é substituída pela espera passiva da próxima tarefa. Ao se identificar com sua função, o indivíduo, como uma peça em um mecanismo, está pronto para ser substituído ou para partir assim que a conveniência o determinar.
O resultado dessa dinâmica é uma questão de "física organizacional". Quando a primeira postura prevalece, os vetores de ação convergem. Os conflitos diminuem e a organização avança de forma coesa em direção a si mesma, a uma unidade com um senso de harmonia indistinguível. Onde a segunda postura se multiplica, os vetores se anulam em jogos de poder e interesses conflitantes. A organização fica estagnada, uma vez que o "querer" de um anula o "querer" de outro.
Esta é uma simplificação didática, mas poderosa. Ela cria o contraste que precisamos para ver como a qualidade da relação indivíduo-organização define seu destino. Não há, portanto, espaço para culpa se nos vemos em uma ou outra postura. A sutileza das situações é o que torna a realidade complexa, e a transição entre elas é, muitas vezes, natural. Ainda assim, a primeira postura emerge como um vetor claro de referência, um norte que precisamos compreender, explorar e viver com intensidade. A jornada para a unidade é um caminho cheio de tropeços e desvios, mas o destino precisa ser claro, pois o custo de não tê-lo é nos perdermos.
Colocar-se a serviço é o verdadeiro ato de união que nos ajuda a colocar de volta a vida que foi removida da organização moderna.
É diante deste entendimento que a gestão se revela em sua forma mais nobre: um ato de serviço à vida.
Em nossos projetos, esta filosofia se manifesta em todos os níveis. É a união:
- •Da equipe com seus clientes, transformando a relação transacional em uma parceria de descoberta.
- •Da estratégia com a operação, onde cada tarefa diária reflete um propósito maior.
- •Do produto com o usuário, onde o software se torna uma extensão da necessidade e aspiração humana.
- •Do indivíduo com o fluxo de valor, que serve aos clientes em suas jornadas.
- •Dos indivíduos entre si, que atuam colaborativamente compartilhando objetivos e aspirações comuns.
- •De cada pessoa com seu próprio potencial, em espaços onde podem florescer e expressar-se em sua totalidade.
- •Da organização com seu território, em vez do apego excessivo a mapas rígidos de estratégias e processos.
É a jornada do ego para o eco.
Gerir é criar as condições para que o potencial de união se realize. É nutrir conexões, zelar pela saúde do todo e harmonizar o campo de possibilidades humanas. Essa é a gestão como um ato de união que serve à vida.